sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Como fazer uma classe inclusiva - o mapa do vôo.

Imagem ilustra uma sala de aula inclusiva. Na foto podemos ver em primeiro plano uma garota negra sem deficiência brincando com uma garota branca com síndrome de Down. Uma sorri para a outra. Na mesma sala de aula, outras crianças sem nenhuma deficiência aparente também brincam umas com as outras. Elas estão usando o uniforme da escola municipal do Rio de Janeiro.

Criando uma sala de aula inclusiva


Dr Robert Jackson* e Catia Malaquias

O ano escolar está começando e os professores em salas de aula regulares estão ocupados com o planejamento e a preparação de materiais de ensino, incluindo materiais curriculares diferenciados para os alunos com deficiência que estão em suas turmas.
Mas tão importante como a aplicação de desenho universal e instrução diferenciada é criar e manter uma cultura inclusiva para a classe… Uma cultura em que cada estudante se sinta tanto acolhido e incluído como aluno, quanto valorizado enquanto colega.
Estudos demonstram que uma cultura de classe inclusiva traz melhores resultados acadêmicos e sociais, além de promover a independência dos alunos com e sem deficiência.
Aqui estão algumas dicas práticas para professores que tentam criar ou melhorar a inclusão na sua sala de aula:
1) NÃO SUBESTIME O SEU ALUNO. Não assuma que um aluno com deficiência não será capaz de “fazer” algo, logo “não vale a pena o esforço”. Os alunos com deficiência intelectual ou cognitiva podem aprender as coisas de uma forma diferente ou levar mais tempo… Eles podem não aprender aquilo naquele momento, mas a aprendizagem é progressiva e algo sempre vai ser aprendido. Dizer a ele e seus colegas que você acha que ele pode fazer é a mensagem mais importante e inclusiva que você pode passar. Ao desencorajar o aluno, você contribui para a realização da profecia de que ele “não é capaz de aprender”, mas ao encorajá-lo, você o incentiva e reconhece seu potencial diante dele próprio e dos outros alunos.
2) NÃO SE SUBESTIME. A inclusão não é física quântica. Uma grande parte é bom senso. Ninguém espera que você “supere” a deficiência do aluno – a diversidade é uma parte natural da vida e inclui a maneira como aprendemos. Reconheça que o aluno tem pontos fortes, assim como desafios. Seu objetivo é ajudar cada aluno a aprender o máximo que puder de uma forma que irá ajudá-lo a exercer o seu direito de ser membro pleno e igual da mesma comunidade que os seus colegas no futuro.
3) Você é um PROFISSIONAL DE ENSINO e você conhece o seu aluno e a turma. Só porque um diretor, coordenador ou professor mais antigo lhe dá conselhos ou um profissional de saúde diz algo pode ajudar o aluno de alguma forma (como uma carteira inclinada para a escrever ou uma almofada de apoio especial para sentar) não quer necessariamente dizer essas adaptações são pelo melhor interesse do aluno. Muitas vezes, é uma decisão de custo/benefício – equilibrar o impacto de “excepcionazar” o aluno é uma consideração importante. Pergunte a si mesmo: “Será que esta solução vai ajudar esse aluno a se sentir parte dessa classe e da escola?”
4) Você é o PROFESSOR e seu aluno com deficiência é PARTE DE SUA CLASSE. O assistente de educação não é o professor do seu aluno. O assistente de educação pode ser experiente e tentar ajudar, mas você precisa instruí-lo sobre como ajudar sem “sufocar” nem fazer sombra sobre o aluno. O papel do assistente é ajudar na instrução acadêmica do seu aluno com deficiência, fomentar sua independência, construir e nutrir relacionamentos sociais. Os colegas vão, logicamente, ver um aluno que esta sendo “mimado” como um “bebê” e essa percepção vai impactar em sua aceitação global como um igual. Um assistente ativo demais pode ter um efeito negativo, ensinando a criança a ser “acomodada” ou “encostada” em vez de estimular sua independência. A relação adequada entre o professor, um aluno com deficiência e o assistente de educação é muitas vezes esquecida, mas é uma parte crucial para criação de um ambiente inclusivo.
5) Procure sempre incluir o seu aluno com deficiência A MESMA MATÉRIA DA LIÇÃOdos outros alunos. Se o material tiver que ser adaptado, pense “o que eu quero que todos os  alunos saibam no final da aula?” “O ​​que eu quero que a maioria dos estudantes saibam no final da aula?”, “O que eu espero que alguns alunos saibam no final da lição?”. Na maioria dos casos, a primeira pergunta irá apontar para a matéria que o aluno com deficiência deve aprender. Se seu aluno compartilhar a aprendizagem com os pares, é provável que esta experiência compartilhada continue no recreio.
6) Você define a CULTURA da sua classe. Você decide o quão bem-vindo, incluído e respeitado o aluno com deficiência será. A forma como você fala e age em relação a ele vai influenciar a maneira como todos o tratam. Os alunos, outros professores e até mesmo os pais dos outros alunos vão usar a sua atitude como exemplo.
7) ESCUTE E ENTENDA seus alunos. Seus pontos de vista são importantes. Se um aluno está tendo dificuldade para seguir instruções, não assuma que ele seja “malcriado” ou “rebelde” – é, provavelmente, sua maneira de expressar que está tendo alguma dificuldade. Pergunte a si mesmo o que está acontecendo. Fale com ele. Olhe ao seu redor – há algo que você pode fazer para ajudar? A maneira como você responder pode piorar a situação do aluno ou ajudá-lo a superar o problema de uma forma positiva. E seus colegas estarão aprendendo com você como responder a um amigo que está tendo um momento difícil.
8) Não deixe seu estudante ser excluído ou “DISCRIMINADO”. Eles devem ter as mesmas oportunidades que seus colegas de classe, incluindo a oportunidade de aprender em conjunto com e entre eles, sentando-se com eles e não separado num canto.
9) Não deixe seu aluno se tornar o “MASCOTE DA CLASSE”. Olhe para a natureza das relações que estão se formando com seus colegas – ajude os colegas a incluirem o estudante em suas brincadeiras, em vez de “usá-lo” no jogo.
10) COMUNIQUE-SE e COLABORE com os PAIS de seu aluno. Os pais são uma importante fonte de informações “em tempo real”, e eles também vão querer ser “incluídos” na comunidade escolar. Eles podem estar um pouco ansiosos e querer saber mais do que a maioria dos pais sobre como seu filho está indo. Os professores com experiência em inclusão relatam que uma relação de colaboração com os pais de um aluno com deficiência é mais importante do que um assistente de ensino – os pais devem ser consultados sobre todas as decisões relativas ao seu filho.
11) COMUNIQUE-SE e colabore COM OS OUTROS PROFESSORES. Há décadas de experiência em cada sala de professores. Você não precisa ficar sozinho.
12) Procure os VERDADEIROS ESPECIALISTAS EM INCLUSÃO – os ALUNOS DA SUA TURMA. Eles terão ótimas ideias sobre a melhor forma de incluir o seu colega com deficiência e o auxílio de colegas já demostrou ter benefícios significativos para todos os alunos – para ensinar você tem que saber.
Estas “dicas” servem para construir uma cultura inclusiva em sala de aula – uma cultura que é difícil de descrever, mas que você vai reconhecer e apreciar quando criá-la.
Criar uma cultura de classe inclusiva é fundamental para os resultados a longo prazo de todos os seus alunos, em particular os seus alunos com deficiência.

Por: Dr Robert Jackson* e Catia Malaquias
Tradução: Patrícia Almeida
* Dr Robert Jackson é Professor Adjunto da Educação da Universidade de Curtin, na Austrália Ocidental, psicólogo registrado e diretor da Incluir. Você pode se conectar com o Dr. Jackson no Twitter @include108 ou através do e-mail include.com.au